Kung-fu - Estilo Wing Chun
Na verdade a palavra kung fu é um erro de tradução da expressão chinesa “Gong Fu” (que se lê “kung fu”). Essa expressão se refere à habilidade verdadeira em uma arte em geral. Mas afinal o que é “Gong”? Fisicamente é a constante melhora no equilíbrio, coordenação, agilidade, flexibilidade, sensibilidade e força ou poder. Mentalmente e espiritualmente falando, são a consciência e a confiança trabalhadas (melhoradas), que promovem constantes avanços em direção à tranquilidade da mente e do coração.
Para desenvolver o Gong é preciso nutrir, reabastecer, equilibrar nossa energia, chamada de Qi (também escrito como “chi”). O Qi é a energia vital de um indivíduo. Para equilibrarmos a nossa energia basta apenas não desperdiça-la. Neste caso, a palavra desperdício se refere à qualquer atividade que não é essencialmente produtiva.
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A lenda de Bodhidarma e os monges do Templo Shaolin
Não se sabe ao certo quando surgiram as artes marciais chinesas. Isso porque existem poucas provas documentadas que sustentem uma história compreensível e factual. Até hoje o que se têm são diversos relatos passados de pai para filho durante gerações, compondo uma série de histórias e lendas.
Muitos creditam a Bodhidharma o título de fundador do kung fu. Segundo historiadores budistas, Bodhidharma (também conhecido como Ta Mo, Dharuma e Daruma Taishi) foi o terceiro filho do Rei Sugandha do sul da Índia e era membro dos kshatriya, ou casta guerreira. Ele recebeu seu treinamento em meditação budista do mestre Prajnatara, que foi responsável pela mudança do nome do jovem discípulo de Bodhitara para Bodhidharma.
Bodhidharma foi um excelente discípulo e logo se sobressaiu entre os colegas. Na meia-idade já era considerado um mestre budista. Quando Prajnatara faleceu, Bodhidharma decidiu partir para a China.
Diz a lenda que quando o imperador Wu viu Bodhidharma, ele o questionou da seguinte forma: “Eu trouxe as escrituras de seu país para o meu. Construí templos de grande beleza e fiz com que todos abaixo de mim aprendessem as grandes doutrinas budistas. Que recompensas eu receberei por isso na próxima vida?” Bodhidharma replicou dizendo que o imperador não receberia nada, em referência à crença budista de que se você fizer alguma coisa esperando recompensa, tudo o que pode esperar é “nada”. O rei ficou tão furioso que baniu Bodhidharma do palácio. Bodhidharma então se dirigiu para o norte e depois de muito caminhar estabeleceu-se no monastério Shaolin (também chamado Sil-lum) no monte Shao-shih nas mostanhas Sung.
Depois de chegar ao templo Shaolin, Bodhidharma meditou em frente a uma parede por nove anos. De sua meditação, resultou o budismo ch’an. Depois disso, Bodhidharma passou a reparar na rotina dos monges e notou que eles, em sua maioria, não possuíam resistência. Por isso, fundou uma série de exercícios que ajudavam a unir a mente e o corpo – exercícios que os monges guerreiros achavam benéficos a seu treinamento. Entre eles estavam o emprego da luta na forma do punho de pedra e das 18 mãos de lohan.
Relatos dizem que um monge chamado Chueh Yuan (também conhecido como Hung Yun Szu) aperfeiçoou o sistema para reunir 72 formas ou técnicas. Mais tarde, os 72 movimentos foram estudados por Pai Yu-feng e Li Cheng da província Shansi. Além dos métodos de Chueh Yuan, também foram estudadas as 18 mãos de lohan e, fundidos os métodos, foram criadas as 170 técnicas. Estes 170 métodos formaram a base do atual estilo Shaolin de kung fu, um estilo que é muito complexo em seus métodos e diversificação.
Os 170 métodos de Pai Yu-feng continham a essência de cinco animais: a serpente (she), o leopardo (pao), a garça azul (hao), o dragão (lung) e o tigre (hu). O tigre ensinou o método de força dos ossos; o dragão desenvolveu grande força do espírito; a garça azul ensinou o treinamento dos tendões; o estilo do leopardo representou extrema força e a serpente contribuiu com a capacidade de fluir o qi.
O sistema Shaolin desmembrou-se em cinco estilos distintos. Isto porque havia cinco templos Shaolin em vários distritos. O sistema original veio da província de Honan. Os outros sistemas foram chamados de acordo com as províncias em que se situavam os templos: O-mei, Wu-tang, Fukien e Kwang-tung. No sul (Cantão), as cinco variedades de Kung Fu Shaolin desenvolveram-se em sistemas familiares: Hung, Lau, Choy, Li e Mo.
Cada uma dessas cinco famílias desenvolveu suas próprias artes:
• Hung Gar: Da família Hung. Fundado por Hung Hei Gung. Usa a força externa e exercícios de tensão dinâmica, apresentando posturas fortes.
• Lau Gar: Da família Lau. Fundado por Lau Soam Ngan, é um sistema baseado em métodos manuais de médio alcance.
• Choy Gar: Da família Choy. Fundado por Choy Gau Yee, cuja marca registrada é seus métodos de ataque a longo alcance. Vale ressaltar que esse método não faz parte do sistema Choy Li Fut, embora tenha algumas semelhanças.
• Li Gar: Da família Li. Fundado por Li Yao San, este sistema usa ataques de médio alcance com socos de médio alcance.
• Mok Gar: Da família Mok (ou Mo). Fundado por Mok Ching Giu, este sistema tem socos de curto alcance e métodos de chute eficientes.
Com o princípio dos 170 métodos de Pai, o Kung Fu começou um novo período de crescimento. Contudo, nota-se que o Kung Fu não começou no templo Shaolin, na verdade floresceu através da influência de Shaolin. Por volta dessa época, o Kung Fu passou a ser categorizado como estilo (métodos) do Norte e do Sul.
Os sistemas do Norte destacam-se por suas técnicas de perna e seus padrões muito elegantes e extremamente trabalhados. Os métodos são ligeiros e graciosos. As técnicas do Norte adotaram essa especialização (de acordo com a lenda) por causa do terreno montanhoso que desenvolvia pernas fortes. Outros acreditam que o tempo inclemente forçava as pessoas a usar roupas pesadas. Isto exigia pernas fortes, já que a parte superior do corpo dificilmente se movia com rapidez.
Os estilos do Sul, por sua vez, usam posturas baixas, técnicas de mão potentes e chutes baixos rápidos. O povo cantonês, que pronuncia Kung Fu como Gung Fu, é mais baixo e mais atarracado e prefere usar métodos de mão. A lenda diz que como o Sul da China tem mais pântanos e água, o povo sulista remava mais, o que desenvolvia seus braços para técnicas de mão. Os praticantes do Gung Fu baseiam-se na velocidade, força, agilidade e resistência para executar seus ataques e defesas.
Para adultos e a chamada terceira idade/melhor idade, a prática do kung fu ajuda não só a quebrar o sedentarismo, como alivia as tensões do dia-a-dia. Fisicamente a atividade contribui para o fortalecimento muscular, a melhora dos reflexos, do senso de percepção e da coordenação motora, além de aumentar a resistência do organismo contra uma série de doenças. Espiritualmente, o kung fu estimula a paciência e o equilibro das emoções, aumenta a sensação de bem estar, proporciona o acesso a uma nova cultura e hábitos relacionados à melhora da qualidade de vida, gerando assim autoconfiança no praticante.
O kung fu também é uma grande ferramenta de inclusão social. Como sua prática não restringe idade, sexo, classe social, tampouco etnia ou religião, essa arte marcial promove a integração entre os povos, incentivando a cultura da paz e do respeito, oferecendo tranquilidade e equilíbrio para os praticantes e para a comunidade da qual fazem parte.
O Grão Mestre Li Wing Kay introduziu no Brasil, antes do início de cada aula de arte marcial chinesa, a pronúncia do juramento abaixo. A Academia Brasil<=>China adotou o mesmo sistema de juramento da metodologia do Grão Mestre Li Wing Kay:
- Eu me comprometo a treinar o corpo e o espírito para a paz.
- Eu me comprometo a reverenciar nossos ancestrais, e a respeitar mestres, professores e colegas.
- Eu me comprometo a não ser falso e seguir o caminho da verdade.
- Eu me comprometo a persistir no aperfeiçoamento físico, mental e espiritual.
- Eu me comprometo a ser paciente e humilde, galgando um a um, os degraus do conhecimento.
- Eu me comprometo a contribuir para que em nosso meio não ofereça abrigo aos mal-intencionados.
- Eu me comprometo a respeitar as demais filosofias e artes marciais.
- Eu me comprometo a zelar pelo respeito devido ao Kung-Fu.
- Eu me comprometo a ser o exemplo vivo da filosofia e da ética dos Mestres.
Depois disso, em algumas academias, também é feita uma reverência ao Kuan Kun. Essa saudação é apenas para mostrar respeito ao local de treino, aos colegas e aos seus superiores. Nada tem a ver com crença ou religião.
Wing chun
Segundo registros, a fundadora do Sistema Wing Chun foi a senhorita Yim Wing Chun. que aprendeu as primeiras técnicas com Ng Mui, sobrevivente do massacre do templo de Shaolin. Depois de casar-se com Leung Bok Toa, Yim Wing Chun ensinou a ele suas técnicas de defesa. Leung Bok Toa desenvolveu o sistema e, em homenagem à sua esposa, chamou o estilo de Wing Chun Kuen (Punhos de Wing Chun).
Leung Bok Toa passou o estilo para Leung Lan Kwai, que ensinou Wang Wah Bo. Wong Wah Bo trabalhava na ópera chinesa e era comum que companhias de teatro viajassem de uma cidade para a outra por meio de embarcações. A bordo do Junco Vermelho Wong conheceu e trabalhou com Leung Yee Tai, que era bastoneiro na embarcação. Ao notar que Leung Yee Tai tinha habilidades especiais com o bastão, adquiridas por ter sido aluno do monge Jee Shin, Wong Wah Bo começou a trocar seus conhecimentos de Wing Chun com ele, o que contribuiu para a entrada das técnicas de bastão longo no sistema, que até então só tinha como armas as espadas gêmeas (facas borboletas).
Leung Yee Tai transmitiu a arte de Wing Chun para Leung Jan, um famoso médico da província Fosan, que gostava muito de assistir a ópera chinesa, motivo ao qual, passou a se conhecerem. Leung Jan transmitiu seus conhecimentos para poucos, entre eles seus filhos, Leung Bik e Leung Tsun, e Chan Wah Shun, um rapaz que trabalhava no cambio de troca de dinheiro, sendo este conhecido como “Wah o trocador de dinheiro”. Já idoso, Chan Wah Shun foi convidado para lecionar Wing Chun na propriedade da família Yip, uma das mais nobres da cidade de Fosan, e transmitiu seus conhecimentos ao jovem Yip Man.
Yip Man treinou com o Mestre Wah até o seu falecimento e mais tarde aprimorou suas técnicas com Leung Bik. Yip Man concluiu os estudos do Wing Chun aos 24 anos, mas começou a ensinar já em idade avançada, tendo como um de seus alunos Lee Jun Fan, conhecido como Bruce Lee. Esse jovem artistas marcial e ator migrou de Hong Kong para os Estados Unidos e na década de 1970 seus filmes tornaram o Wing Chun famoso e muito procurado.
Yip Man teve outros alunos, entre eles Ho Kam Ming, que integrou uma de suas primeiras turmas. Ho Kam Ming tinha uma academia em Macau e filiais em Hong Kong. Um dos alunos de Ho Kam Ming foi Chen Chin Hung, que estudou na mesma classe de Li Wing Kay no colegial. Chen Chin Hung e Li Wing Kay treinaram artes marciais juntos e graças à grande amizade trocaram técnicas. Foi assim que Li Wing Kay aprendeu Wing Chun.
Árvore Genealógica do Estilo Wing Chun Kung Fu
Fundadora
Ng Mui
Monja Shao Lin
1ª geração
Yim Wing Chun
Organizadora do sistema que deu nome ao estilo
1ª geração
Leung Bok Chau
Mercador de Sal de Fukien. Marido da Yim Wing Chun
2ª geração
Leung Lan Kwai
Médico Herbalista
3ª geração
Wong Wah Bo / Leung Yee Tai
Ator da ópera Chinesa
4ª geração
Leung Jan
Médico e farmacêutico de Foshan
5ª geração
Chan Wan Sun-Leung Tsun-Leung Bik
Trocador de dinheiro. Filho mais novo de Leung Jan. Filho mais velho de Lung Jan
6ª geração
Ng Chung So
Sihing de Yip Man. Continuou treinando com Yip Man após a morte de Chan Wah Sun
6ª geração
Yip Man
Último patriarca do sistema
7ª geração
Leung Siu Hung (Duncan Leung)
Aluno particular de Yip Man
8ª geração
Li Hon Ki
Aluno particular de Duncan Leung
9ª geração
Adilson França
Kung-Fu (Wing Chun).
Aulas: segunda, terça, quarta e quinta – às 18h30.
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